27 de setembro de 2009

A Última Carta



Sábado, 26-09-2009

A caneta começa a namorar a folha. Os traços surgem como por magia e dou início à Última Carta.
Dirijo-a a ti e também a mim, pois não haverá mais palavras para ser ditas. Não haverá mais espaços em aberto, envoltos na dúvida que me assombra. Termina aqui o sonho, tal como todo o meu sofrimento. Finalmente te liberto de mim… Posso agora falar-te, contar-te tudo o que não foi dito.
Muitas foram as noites em que me acolhi no conforto do teu abraço inexistente. Muitas foram as alturas em que te imaginei a meu lado. Muitos foram os dias em que te pensei com dor, com ódio, com carinho, com amor. Muitas foram as vezes em que te quis mais do que tudo, até mesmo mais das em que pensei o contrário.
Fitava-te e descobria duas faces, aquelas que denominava como o Sol e a Lua. No entanto, quando te magicava, com os olhos cerrados, na escuridão da noite, não sabia dizer qual o teu verdadeiro eu (esperava eu que fosse o lado lunar a iluminar a tua alma). Às vezes doía. Não tinha conhecimento de como te falar e questionava todos os meus actos, procurando saber quais os mais adequados para te locomover até àquilo que sou. Tantas vezes tentei incentivar-te a olhar-me de maneira diferente. Tantas vezes tentei levar-te a interessares-te em mim.
Mudei gostos, mudei rotinas, mudei os hábitos. A minha vida começou a girar em tua volta. Eras o prisma da minha mente. Todos os dias ela me berrava “vou tirar-te esse telemóvel!”, quando via os meus olhos a lacrimejarem e a pedirem socorro em silêncio. Queria que estivesse bem, apenas isso. Depois de ouvir muitas das tuas confissões, tornava-se impossível. Contudo procurava encontrar-te de todas as maneiras, a qualquer minuto.
Queria acabar com esta tormenta. Queria contar-te tudo e, mais do que tudo, pedir-te compreensão. Porém, se o fizesse nada seria o mesmo. Um sismo de emoções destruiria tudo o que mais louvo, a tua amizade. E não, as minhas fantasias de menina adolescente não se realizariam, muito pelo contrário. Seriam derrubadas pelo mesmo sismo, para não mais voltarem, tal como tu. Teria de te deixar partir, juntamente com o sonho.
Optei, portanto, pelo caminho mais fácil. Aquele pelo qual só o sonho se perde. O caminho do silêncio. Guardo em mim todas as mágoas, todas idas e todas voltas. Guardo em mim todas as memórias das vezes em que te toquei, te sorri, te fitei, e todo o meu corpo se envolveu num misto de felicidade suprema e num conforto inigualável. São estas recordações, ou aventuras em silêncio, que me fazem acreditar que vale a pena permanecer assim. Posso continuar a apreciar os momentos em que o mundo pára enquanto me olhas. Posso sentir as borboletas a pairar no meu interior quando te encontro de surpresa. Posso continuar a adorar-te como sempre o fiz.
Será este o mapa para encontrar o meu bem-estar naqueles dias mais mórbidos, em que me perderei no entoar das cordas da minha guitarra. Será a ideia de te poder ter, não como sonho, mas como o que me basta para ser feliz.
Assim me despeço do sonho de te ter para além do que necessito, de te ter como companheiro. Dou início à batalha que travo contra a fantasia, para poder manter esta realidade. Esquecerei a Lua que tanto desejo que sejas, e deixarei o Sol da tua amizade iluminar os meus dias.

Boa Noite, Sonho.

Nota: Para melhor compreensão das referências à Lua e ao Sol, é aconselhada a leitura de um texto existente no blog chamado "Sol e Lua".

2 de setembro de 2009

Leva-me daqui.



Conto, por brincadeira,
Tudo aquilo que te quero esconder.
É fácil encontra-lo nos esboços das minhas folhas,
Nos momentos em que aqui escrevo,
Em todas as palavras que te profiro.

Torno-me um mundo transparente,
Cristalino como as águas…
Mostro-me a ti.
Não o vês.

Seria mais simples pronuncia-lo,
Grita-lo a todos os céus.
De que me valia a pena?
Forças implacáveis roubar-te-iam.
Não mais a tua presença iluminaria a minha alma.

Assim, permanecemos boiando
Neste grandioso rio sem fim…
Empurra-nos a corrente
A mando do medo, da agonia, do amor.

Tenho medo de remar e seguir um rumo diferente…
Tenho medo de me levar para longe de ti.