13 de abril de 2010

Capítulo 19


Mirou-o.

Avançou em curtos passos na sua direcção. Respirando fundo, relembrou todo o medo, toda a duvida que dominava a sua alma. Já nada a podia impedir de o fazer. Combatendo toda a ânsia, erguia-se o desespero, a raiva, a necessidade de o saber.

Os seus lábios movimentaram-se mas nada se ouviu para além do silêncio. Pronunciava-se, no entanto, milhares de palavras naquela troca de olhares e todas pertenciam à rapariga.

Voltou a sugar para dentro de si o ar que a envolvia, como se toda a força que necessitava estivesse nele presente. Assim, rompeu o silêncio:

- O que sentes por mim?

O rapaz fitou-a, perplexo com tais palavras. Estava em choque, paralisado com o que ouvira. Nunca acreditara que ela fosse capaz de o perguntar. Nunca pensara em resposta para tal questão. Nunca fora tão fortemente confrontado com esta realidade de sentimentos capazes de destruir a amizade, o companheirismo, que há já tanto tempo durava, a ligação que tanto levou a ser construída.

Na verdade, também o sentia. Sempre que a olhava, uma espécie de desejo corrompia-lhe o corpo, assim como uma necessidade genuína de a beijar, uma extravagância de emoções que lhe acariciavam a alma… Ela não o podia saber. O receio de a magoar, de a afastar de si, era tão grandioso como este novo mar de sensações.

Como agir? O que responder? Sabia que a magoaria. Não tinha conhecimento de como processar tais sentimentos. No entanto, queria guarda-la para si, a ideia de a perder era simplesmente avassaladora.

Conhecia-se, tinha medo. Mudar o rótulo entre os dois, seria mudar cada pedaço da sua relação. Não estava preparado. Perderia a sua amizade se a magoasse e isso era a última coisa que queria neste mundo.

A solução que encontrou era pôr fim a todos os sonhos, a todo o sentimento, a tudo que se passava na cabeça da pobre rapariga. Tinha de abdicar de qualquer emoção para prosseguir seu amigo, para a preservar perto de si sem a magoar.

- Nada. - Pronunciou friamente.

- Obrigada pela tua sinceridade. – Sorriu, olhando-o nos olhos pela última vez.

Virou costas, partiu. Começou a longa caminhada até casa, a longa caminhada que seria apenas o primeiro passo para o esquecer. Chorava enquanto morria um pedaço da sua alma, o mais importante. A sua poesia, a sua música, os seus sonhos.

E ele? Ele ficou a vê-la partir.